Evento debateu saberes indígenas e educação escolar não indígena em aulas de História e Matemática no Ensino Fundamental.
Com grande interação entre participantes do Brasil e da América Latina, foi realizado, nessa terça-feira (25), o webinário “Saberes indígenas e educação escolar não indígena: práticas pedagógicas em aulas de História e Matemática no Ensino Fundamental”. O evento é uma atividade relacionada a dois projetos desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisas em História da Matemática e Saberes Tradicionais (GHMat), do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes).
Um dos projetos, que trata da abordagem matemática em jogos e brincadeiras indígenas, recebe apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), por meio do Edital Universal (03/2018). A pesquisa “Jogos e brincadeiras indígenas numa perspectiva etnomatemática” envolve diretamente os professores indígenas de Aracruz, além de professores e estudantes dos cursos de Licenciatura em Matemática.
A organizadora do webinário, professora Claudia Araújo Lorenzoni, destacou que o projeto tem buscado o diálogo intercultural. “Estamos muito satisfeitos com os resultados obtidos ao conseguir fazer o trabalho colaborativo com os professores das etnias guarani e tupiniquim do Espírito Santo, com a parceria do Ifes, da Fapes e das demais instituições apoiadoras”, pontuou a professora.
O diretor-presidente da Fapes, Denio Rebello Arantes, evidenciou a importância da Fundação em apoiar as ações que beneficiam a diversidade étnica da sociedade capixaba. “Os resultados dos projetos nos dão a certeza de que a Fapes destina recursos para apoiar pesquisadores com olhar diferenciado, incluindo as áreas sociais”, afirma.
Kit didático indígena
A professora Ana Paula Azevedo, mestre em Educação em Ciências e Matemática pelo Ifes e professora da Rede Estadual, contextualizou o trabalho de pesquisa iniciado no segundo semestre de 2018 com a temática indígena. Ela relatou a experiência no projeto de mestrado com uma turma de 30 alunos em uma escola municipal de Vitória. As atividades desenvolvidas envolviam técnicas de construções dos povos indígenas Guarani Tambeopé, que resultou na criação de um kit didático para utilização por professores que queiram trabalhar a temática.
Ana Paula Azevedo constatou, no final da pesquisa, que os encontros na escola não indígena contribuíram para a ressignificação dos conhecimentos dos alunos sobre o povo Guarani Tambeopé e seus saberes e fazeres, combatendo estereótipos.
“O kit didático tem o objetivo de contribuir com a efetivação da Lei n°11.645/08, visto que nele estão contidas sugestões de atividades pedagógicas que podem servir de suporte para outros professores instigarem a criatividade e a criticidade dos alunos”, complementou a professora.
Cultura indígena nas escolas
O professor de História Welington Batista dos Anjos, da rede municipal de Vila Velha, mestre pelo Ifes e doutorando em Educação, está à frente do projeto "Desmitificando histórias e imagens dos indígenas do Espírito Santo”. A pesquisa é realizada nas escolas municipais de Vila Velha com alunos dos 4° e 5° anos, além dos estudantes de 1ª a 4ª séries da Educação de Jovens e Adultos (EJA).
“O principal objetivo do projeto é descontruir preconceitos e estereótipos sobre os indígenas, dando visibilidade às contratações dos povos que viveram e ainda vivem no Espírito Santo”, destacou Wellington dos Anjos.
Entre suas inquietações a respeito dos indígenas, ele apontou: a criação e manutenção de estereótipos, a ausência e invisibilidade da história dos indígenas no Espírito Santo em materiais didáticos e os constantes equívocos ainda presentes na mentalidade dos não indígenas, por exemplo.
Etnomatemática
O professor e doutorando em Antropologia Social Valdemir de Almeida Silva apresentou o projeto “Práticas Pedagógicas nas aulas de Matemática na Educação Escolar Indígena do Povo Tupiniquim de Aracruz-ES”. Foram mostradas algumas curiosidades dos indígenas quando fazem artesanatos ou artefatos, dimensionando os componentes da taquara com o galho e a corda. Para isso, utilizam a dimensão dos braços para construir as palhas proporcionais a cada indígena, se contrapondo a nossa tradicional medida metro. Outro destaque são os significados dos grafismos indígenas e da pintura corporal com tintas de urucum, jenipapo e tabatinga.
O professor Valdemir Silva frisou que a necessidade de realizar um evento virtual fortalece a importância de promover discussões educacionais como a realizada na última terça-feira (25). “Dedico esse momento a todos os anciões da aldeia que sempre nos ensinam a magia do conhecimento em favor do coletivo. Que os mesmos se mantenham no isolamento durante a pandemia do novo Coronavírus para que possamos dar continuidade aos nossos projetos de vida social”, reforçou.
Texto: Jair Oliveira
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