11/02/2025 10h41 - Atualizado em 11/02/2025 16h16

Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência: pesquisadora capixaba coordena projeto que estimula equidade de gênero na ciência

Professora do Ifes de Nova Venécia, Marcela Giacometti de Avelar foi contemplada em edital da Fapes exclusivo para mulheres.

Nesta terça-feira, dia 11 de fevereiro, completa 10 anos que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e a Organização das Nações Unidas (Onu) instituíram a data como o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, com a intenção de ser um marco de maior acesso e participação igualitária das mulheres na ciência e pesquisa. No Espírito Santo, o Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), acredita que a equidade de gênero é essencial para a evolução da área e promove políticas públicas de incentivo para que mais mulheres e meninas ingressem e se mantenham na pesquisa científica, tecnológica e de inovação.

Um exemplo dessas ações afirmativas é o edital "Mulheres na Ciência", que visa estimular o desenvolvimento de pesquisas lideradas por mulheres no Estado, consolidando o Espírito Santo como um polo de excelência e inclusão na área científica. Já foram realizadas duas edições dessa chamada pública, que se alinha ao Plano Estadual de Políticas para as Mulheres do Espírito Santo. No último edital, lançado em 2024, foram investidos R$ 5,3 milhões, recurso proveniente do Fundo Estadual de Ciência e Tecnologia (Funcitec).

Marcela Giacometti de Avelar, doutora em Engenharia Civil e professora do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) - Campus Nova Venécia, é uma das pesquisadoras contempladas por esse edital. E o projeto que está sendo desenvolvido por ela, "Mãos na Terra: nutrindo futuras pesquisadoras", tem o intuito justamente de promover a inclusão e participação feminina nas ciências da Terra, por meio do desenvolvimento e implementação de programas de mentoria, workshops interativos, e recursos educativos que visam fortalecer as habilidades científicas das mulheres, aumentar sua representatividade em campos historicamente dominados por homens, e fomentar uma mudança cultural nas percepções de gênero em Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (conhecida como STEM, na sigla em inglês).

"A ideia do “Mãos na Terra” surgiu da necessidade de desenvolver uma pesquisa no Ifes - Campus Nova Venécia, que abordasse um assunto comum a todos os cursos técnicos e superiores da Instituição: a geociências. O projeto visa aumentar a presença feminina nas ciências do solo, incentivando alunas de engenharia civil, geologia e geografia a se envolverem em pesquisas científicas", explica.

"Para isso, as alunas são orientadas a oferecer mentorias, desenvolver atividades interativas e lúdicas para crianças, jovens e até adultos e preparar materiais educativos, entre outros, na área de geociências. Nosso objetivo é fortalecer as habilidades dessas estudantes para que elas repliquem e estimulem outras jovens a ingressarem na carreira acadêmica", detalha.

O projeto tem dentro de sua metodologia um engajamento em escolas municipais e estaduais, por exemplo. A ideia é que se organize visitas de alunos a exposições e estimule a participação em atividades educativas lideradas pelas alunas dos cursos de Geologia e Engenharia Civil do Ifes – Campus Nova Venécia, que participam do desenvolvimento da pesquisa.

Dessa forma, será possível realizar uma coleta de dados sobre o número de escolas e alunos envolvidos, feedback dos professores e alunos, e o impacto percebido nas atitudes dos alunos em relação às geociências. "Espera-se que o final do projeto obtenha impacto científico, econômico, tecnológico, social e ambiental", pontua Marcela Giacometti de Avelar.

Exemplo em casa

Não é algo tão comum uma criança ter o desejo de ser cientista quando crescer. Porém, o caso de Marcela é diferente. Ela conta que desde bem nova teve um motivo especial para seguir pelo caminho da pesquisa no futuro.

"Minha mãe era pesquisadora. Ela é doutora em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Por isso, eu adorava falar que minha mãe era cientista, achava lindo o laboratório que ela trabalhava, cheio de tubos de ensaios e substâncias químicas. Na universidade, em uma área bem diferente da dos meus pais, Engenharia Civil, fui, desde o primeiro ano, bolsista de iniciação científica no laboratório de Solos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), ali desenvolveu-se mais ainda a minha paixão pela pesquisa científica", relembra.

Mas nem tudo foram flores nessa trajetória até virar cientista. De acordo com Marcela, estar inserida em um meio majoritariamente masculino apresentou muitos desafios a serem superados na caminhada.

"A minha turma de graduação (Engenharia Civil) era predominantemente masculina, com 43 homens e 7 mulheres e, desde o início, já era nítida a diferenciação que os professores faziam entre os gêneros. Conforme a minha carreira acadêmica foi avançando, mestrado e doutorado, as desigualdades de oportunidades entre os sexos foram mais sutis, entretanto, houve episódios em que os professores preferiam dar responsabilidades mais importantes aos estudantes do sexo masculino", relata.

Resoluções da Fapes específicas para mulheres

Além do edital exclusivo, a Fapes também adota outras ações para incentivar mulheres a seguirem a carreira científica. Um exemplo são as resoluções do Conselho Científico Administrativo da Fapes (CCAF), que são específicas e tratam do advento de prole para bolsistas e pesquisadoras.

Atualmente existem duas: a nº 278/2020 que estabelece critérios específicos de avaliação da produção técnico-científica de proponentes de projetos submetidos à Fundação, em razão do advento de prole (maternidade), visando a ampliar o período considerado na avaliação da produtividade. Já a de nº 344/2024 concede o afastamento temporário para licença em razão de advento de prole por até 180 dias, mediante apresentação dos documentos necessários no prazo de 30 dias a contar do nascimento, do parto, da adoção ou da obtenção de guarda judicial para fins de adoção.

"Iniciativas como essa são fundamentais para equilibrar a representatividade de gênero na ciência, oferecendo às pesquisadoras capixabas oportunidades de protagonismo e liderança em projetos de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação. Sonhamos com o dia em que não haverá diferenciação de oportunidades para homens e mulheres cientistas e todos trabalharemos juntos para divulgação da ciência no Brasil", almeja Marcela.

Próximo edital da Fapes Mulheres na Ciência

A Fapes já trabalha para que o próximo edital exclusivo para mulheres cientistas seja lançado e com novidades. Está previsto para 2025 a abertura do Edital Mulheres nas Ciências Exatas e da Terra, Engenharias e Computação.

Cenário brasileiro apresenta evolução

De acordo com dados de uma pesquisa da Unesco, as mulheres representam 33,3% de todos os pesquisadores no mundo e apenas 12% delas são membros de academias científicas nacionais. Nas áreas de tecnologia e inovação a presença de pesquisadoras é ainda menor: apenas uma em cada cinco profissionais.

No entanto, no Brasil, as estatísticas apresentam um cenário de avanço das mulheres na ciência. Em 2022, 49% da produção científica brasileira tinha pelo menos uma mulher entre os autores, segundo dados do documento “Em direção à equidade de gênero na pesquisa no Brasil". Vinte anos antes, em 2002, esse percentual era de 38%.

Esse número faz o Brasil ocupar a 3ª posição no ranking de países com maior participação feminina na ciência entre as nações analisadas (18 países + União Europeia), ficando atrás apenas de Argentina e Portugal. Ambos possuem 52% das publicações científicas com autoras mulheres.

"O papel das mulheres é fundamental para o desenvolvimento da ciência em nosso País. De acordo com dados da Capes, por exemplo, 55% dos matriculados em mestrado e doutorado atualmente no Brasil são mulheres. A Fapes tem orgulho em contribuir diretamente no fortalecimento do trabalho das mulheres pesquisadoras por meio de Editais dedicados a elas. Com isso, estamos incentivando que mais mulheres assumam a liderança científica e contribuam com a nossa relevância científica no cenário nacional e internacional", afirma o diretor-geral da Fapes, Rodrigo Varejão.

Surgimento da data

Em 22 de dezembro de 2015, a Assembleia Geral das Nações Unidas estabeleceu o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, que acontece anualmente em 11 de fevereiro, com o objetivo de reconhecer o papel fundamental exercido pelas mulheres e pelas meninas na ciência e na tecnologia. 

A data foi implementada pela Unesco e a Onu-Mulheres, em colaboração com instituições e parceiros da sociedade civil. O Dia é uma oportunidade para promover, de forma plena e igualitária, o acesso à ciência e a participação de mulheres e meninas nessa área. A igualdade de gênero é uma prioridade global da Unesco e o apoio a jovens meninas, a formação e as habilidades plenas para fazer com que as ideias delas sejam ouvidas e impulsionem o desenvolvimento e a paz.


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