O mais importante encontro de paleontologia de vertebrados do país, o Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados, está sendo realizado nesta semana, até o dia 29, em Vitória, no campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Cerca de 170 pesquisadores, que estudam fósseis de peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos irão debater e apresentar suas mais recentes descobertas e mostrar que a paleontologia brasileira tem muito mais a oferecer do que os famosos dinossauros. O evento é organizado pela professora do Centro de Ciências Agrárias em Alegre, Taissa Rodrigues, em colaboração com alunos da Ufese pesquisadores de outras instituições. Durante a semana, haverá mini-cursos, palestras, mesas-redondas e apresentações de trabalhos.
A equipe de pesquisadores liderada pelo professor Pedro Romano, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), tomou a iniciativa de disponibilizar parte do acervo de fósseis na Internet na forma de arquivos 3D, a fim de promover e ampliar a difusão da paleontologia utilizando novas tecnologias. A metodologia empregada se chama shape-from-silhouette e consiste em uma técnica na qual um modelo 3D texturizado é gerado a partir de uma série de fotografias, em diferentes perspectivas, de um objeto.
A metodologia é relativamente barata, pois para aplicá-la é necessária a utilização de um programa específico, mas sem a necessidade de equipamentos de alto custo: com apenas uma máquina fotográfica, um tripé e um laptop básico é possível reconstruir tridimensionalmente os fósseis.
A iniciativa, em desenvolvimento na UFV, não se limita apenas à digitalização de fósseis, incluindo também modelos 3D de exemplares de vertebrados atuais. Assim, o objetivo é gerar uma exposição virtual sobre biologia e paleontologia. Além disso, um dos fins esperados é criar um acervo digital para servir de suporte didático para estudantes de biologia e geologia.
Especificamente, parte do acervo didático das coleções da UFV está sendo digitalizado e ficará disponível na Internet. Assim, os alunos que cursam disciplinas como a de paleontologia poderão acessá-lo de qualquer lugar para auxiliar em seus estudos. Claro, quaisquer outros alunos (de outras instituições ou mesmo de outros níveis de formação) terão a possibilidade de acessar o catálogo virtual gratuitamente. Portanto, a iniciativa pode constituir uma nova forma de realização de atividades de extensão e ensino de paleontologia e biologia, contribuindo para a difusão da ciência para um público mais amplo de forma atrativa para a maioria das pessoas.
Ovos fósseisPesquisadores do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, liderados pela paleontóloga Luciana Carvalho, trazem ao evento o primeiro registro de ovos fósseis para o afloramento de Pirapozinho, no estado de São Paulo.A preservação de ovos no interior das rochas é uma ocorrência rara devido à fragilidade inerente a estas estruturas. Para que ocorra a preservação deste tipo de material sãonecessárias condições ambientais particulares como, por exemplo, o soterramento dos ovos antes que os mesmos eclodam (a eclosão dos ovos é o momento em que os filhotes nascem). Estas condições especiais ocorreram há, aproximadamente, 80 milhões de anos, no sítio paleontológico conhecido informalmente como “Tartaruguito”, localizado no município de Pirapozinho, São Paulo. Neste sítio foram encontrados não só ovos isolados, mas quatro ninhos, cada um com cerca de cinco ovos. Os ovos possuem a forma típica daqueles produzidos pelos crocodilos atuais. Sendo assim, está se considerando que estes animais foram os responsáveis pela construção dos ninhos.
Novas análises feitas a partir da microestrutura da casca dos ovos permitirão a confirmação deste dado.Para complementar o achado, durante a coleta um dos ovos se partiu no meio e acabou por permitir visualizar a parte interna, o que trouxe uma grata surpresa: restos de pequenos e delicados ossos preservados no interior do ovo. Este é um achado ainda mais impressionante, um embrião fossilizado! Se a fossilização de ovos são eventos raros na Paleontologia, mais raro ainda é a preservação de um embrião no interior do mesmo. Esta nova descoberta ajuda a resgatar dados sobre as espécies que viviam na região e sua relação com o meio ambiente, permitindo que a Paleontologia conte mais um capítulo da história da vida em nosso planeta.
Evolução dos mamíferos no BrasilJá o Laboratório de Mastozoologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro(UFRJ), liderado pelo professor Leonardo Avilla, apresentará durante o IX Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados inúmeros estudos sobre evolução dos mamíferos. Contudo, cabe destaque à série de 12 estudos que versarão sobre os resultados do projeto de paleontologia em cavernas no estado do Tocantins, Norte do Brasil. Esses estudos abordarão aspectos da diversidade de vários grupos de mamíferos viventes e extintos que habitaram os “cerrados” do Brasil há mais de 20.000 anos. Muitos desses mamíferos não existem mais em nosso País e nem deixaram descendentes, e muitos ainda se destacam por serem gigantes, membros da conhecida Megafauna.
Os estudos revelaram que o Norte do Brasil era habitado por ursos, lhamas, tatus, onças, roedores, marsupiais, cavalos e até mesmo nossos antepassadoshumanos. Além de estudos sobre a diversidade, o grupo traz contribuições científicas sobre como viviam, o que comiam, como seus fósseis foram levados às cavernas e como eram os ambientes e clima do Norte do Brasil entre 22.000 e 4.000 anos no passado, sendo o estudo mais completo realizado nesta área do conhecimento até hoje no Brasil.
Além disso, este estudo só foi possível pela grande equipe multidisciplinar envolvida no projeto, de mais de 10 instituições nacionais e estrangeiras e 50 pesquisadores, e o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), da Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Estes estudos também merecem destaque pela formação de inúmeros jovens pesquisadores em Paleontologia de Mamíferos.
Site do evento:
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