20/01/2025 10h00 - Atualizado em 20/01/2025 10h46

Projeto de iniciação científica aborda saúde mental de adolescentes em escola de Vitória

Dados de pesquisa financiada pela Fapes vão gerar ações de apoio aos jovens alunos.

Saúde mental é um tema cada vez mais discutido na sociedade atual. Porém, quando relacionado aos adolescentes, o assunto ainda não é tratado com a devida importância. Segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), metade de todas as condições de saúde mental tem início aos 14 anos de idade, embora a maioria dos casos não seja detectada e nem tratada. Soma-se a isso o fato de, mundialmente, a depressão ser uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes, colocando o suicídio na 3ª posição entre a causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos.

Trazendo para um contexto próximo, o relatório Situação Mundial da Infância de 2021 estima que, no Brasil, quase um em cada seis adolescentes entre 10 e 19 anos de idade convive com algum transtorno mental. Diante desse cenário, Cíntia Helena Santuzzi, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), teve a ideia de coordenar um estudo que pudesse mapear e fornecer dados da condição emocional de jovens alunos, possibilitando ações posteriores que os ajudem a enfrentar essas dificuldades.

Foi então que nasceu o projeto "Saúde mental de adolescentes: do conhecimento à intervenção", financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), por meio do Edital nº 12/2023 – Programa de Iniciação Científica Júnior do Espírito Santo – Pesquisador do Futuro (PICJr 2024).

O estudo contou com a participação de alunos do Ensino Fundamental II da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) TI Moacyr Avidos, que tiveram a tutoria da professora Jeane Tomaz de Oliveira. Os estudantes receberam bolsas mensais de iniciação científica júnior no valor de R$ 400, durante o período em que estiveram envolvidos com a pesquisa. O projeto recebeu o total de R$ 47,5 mil.

"Particularmente, sou apaixonada pelo PIC Jr.  É a minha terceira participação no programa. Acho fantástica a iniciativa, porque, de fato, a gente consegue despertar nesses alunos a possibilidade de: eu posso, eu consigo, a universidade também é para mim. Porque, às vezes, eles não levam isso em consideração. Principalmente os meninos de iniciação científica mesmo, os que estão envolvidos diretamente. Mas eu acho que, de alguma maneira, indiretamente, toda a comunidade escolar participa. Eles acabam se interessando, tendo curiosidade e tendo essa oportunidade", comemorou a docente Cíntia Santuzzi.

Sofy Victoria do Nascimento Marinho é um exemplo dos alunos que foram impactados pelo projeto. Ela cursava o 6º ano quando participou do estudo e disse que o contato direto com a pesquisa e, principalmente, a relação criada com o tema Saúde Mental durante o desenvolvimento do estudo abriram uma nova perspectiva. "Foi uma experiência muito boa, bem inovadora. Nunca tinha discutido sobre esse assunto antes. Quero continuar a me envolver com ele, aprender um pouco mais e, quem sabe, ajudar pessoas no futuro", afirmou a estudante, que ainda fez questão de ressaltar a importância da pesquisa.

"Conseguimos saber mais sobre os alunos da nossa escola que estavam passando por isso (problemas emocionais). É muito importante entender o que passa na cabeça das crianças, que agora estão mudando para uma fase de pré-adolescência e adolescência, porque é muita mudança. Então, o projeto foi muito bom nesse aspecto", acrescentou Sofy Marinho.

Concepção e execução do projeto

De acordo com a coordenadora do projeto, Cíntia Helena Santuzzi, o estudo teve natureza quanti-qualitativa com perfil investigativo, desenvolvido por meio de uma pesquisa-ação. Primeiramente, foi iniciada uma fase exploratória, com objetivo de determinar o campo de investigação. Em seguida, foi realizada a formulação do problema de modo a garantir a aplicabilidade prática de uma conduta com maior precisão e a construção das hipóteses, fornecendo suporte ao desenvolvimento das ações que serão prestadas.

A amostra então foi composta por alunos matriculados no Ensino Fundamental II da Escola EMEF TI Moacyr Avidos, utilizando para coleta de dados um questionário semiestruturado desenvolvido pelos integrantes da pesquisa, por meio de um levantamento bibliográfico e tendo por base literatura científica.

"Dentro desse público adolescente, a gente sabe que está muito em alta a taxa de incidência de ansiedade, de depressão. Então, lá na Ufes, a gente já trabalha muito com questionários validados. Tentamos juntar, ver uma coisa mais concreta, com questionário mais sério para aplicar na própria população. Porque além de a gente conseguir trazer um dado e fazer um projeto científico, a gente consegue dar um retorno para a escola de como está o perfil desses alunos e, talvez, poder traçar algumas ideias do porquê disso”, detalhou Cíntia Santuzzi.

“Além disso, a gente pode estratificar melhor esses dados, entender melhor, para inclusive ter alguma intervenção, mesmo que não seja uma intervenção direta. Com todo mundo junto, podemos pensar numa ideia de talvez trazer palestras, falar mais sobre o assunto para tentar modificar esse cenário", completou a coordenadora.

Como exemplo, Cíntia Santuzzi apontou os dados mais relevantes identificados na pesquisa. "Acredito que a estatística que mais chamou a nossa atenção foi a ‘Suspeita de Transtorno Mental Comum’, na qual mais da metade dos estudantes apresenta essa suspeita (56%). Além disso, outro resultado que se destaca é a ‘Frequência de Sintomas de Ansiedade’, em que as frequências ‘Grave e Extremamente Grave’, juntas, representam, aproximadamente, um terço dos alunos (33%)”, frisou.

“Por fim, também obtivemos dados como o baixo tempo de atividade física semanal (2 horas com desvio padrão de 2) e o alto tempo de uso de aparelhos eletrônicos por dia (5 horas com desvio padrão de 3). Lembrando que esses alunos estudam integral, ou seja, a maior parte do dia, das 8h às 16h, estão na escola, portanto o tempo de tela é significativo", explicou Cíntia Santuzzi.

Apresentação dos resultados na escola

No último mês de dezembro, a comunidade escolar foi convidada para assistir à apresentação dos resultados da pesquisa, com o intuito de, em conjunto, analisar e interpretar os dados para criar um planejamento de ações destinadas a enfrentar o problema que foi objeto de investigação. A tutora Jeane Tomaz de Oliveira conta com entusiasmo a experiência.

"Nós levamos o banner, explicamos todos os pontos do trabalho, assim como foi feito no dia da apresentação lá na Mostra Científica do PIC Jr., no Ifes da Serra. Só que tivemos uma abordagem diferenciada na nossa fala, já que estávamos dialogando com os próprios professores que convivem e trabalham com esses alunos diariamente. Após a apresentação, nós respondemos as perguntas dos professores e eles queriam saber se o projeto teria continuação, gostaram muito do tema”, disse Jeane Oliveira.

“Já os alunos falaram com muita propriedade e fizeram sugestões de como a gente poderia trabalhar a parte emocional durante esse ano de 2025, com foco nos resultados que o projeto trouxe. Tentar ajudar para que eles tenham mais autocontrole a respeito das emoções", complementou a tutora.

Jeane Oliveira destacou também que o tema Saúde Mental passará a ser abordado dentro das aulas de projeto de vida, que acontecem duas vezes por semana dentro da escola. Além disso, a ideia é levar os resultados da pesquisa científica para o conhecimento da Prefeitura de Vila Velha, buscando um suporte maior para os alunos.

"Os alunos também precisam de um apoio psicológico e emocional, porque o que eles passam fora do espaço escolar acaba refletindo também no rendimento deles dentro da escola", salientou a tutora.

O que é o Edital PIC Jr.?

O Programa de Iniciação Cientifica Júnior do Espírito Santo – Pesquisador do Futuro (PIC Jr.) cumpre a missão de inserir os alunos da Rede Pública de Ensino Básico no campo da pesquisa científica, tecnológica e de inovação, por meio de bolsas de IC Jr., conectando pesquisadores a escolas públicas para que estudos sejam desenvolvidos pelos estudantes.

Em 2025, o PIC Jr. vai investir ainda mais na seleção de propostas de projetos que serão desenvolvidos por alunos e professores de escolas públicas localizadas no Estado, em parceria com pesquisadores atuantes em instituições de Ensino Superior e/ou pesquisa capixabas. Ao todo, cerca de R$ 6,3 milhões em recursos estão disponíveis, oriundos do Fundo Estadual de Ciência e Tecnologia (Funcitec) e da Secretaria da Educação (Sedu).

"É um programa que tem o papel fundamental para estimular a participação de estudantes da Educação Básica em projetos de ciência e tecnologia, oportunizando uma experiência de aprendizado baseada em projetos, o que pode fazer a diferença no seu ingresso no Ensino Superior e na sua atuação profissional. Outro aspecto de destaque é o fato de os projetos estarem compartilhando a experiência científica de professores de instituições de Ensino Superior com professores e alunos da nossa rede pública de Educação Básica, favorecendo o ensino, o aprendizado e despertando o interesse pela carreira científica e tecnológica", pontuou o diretor-geral da Fapes, Rodrigo Varejão.

 

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