Estudo realizado em parceria com Ifes e Ufes aponta que 42% consumiram álcool ou drogas antes do sinistro.

Na última semana, a Polícia Científica do Espírito Santo (PCIES) divulgou o "Painel Pericial de Sinistros de Trânsito", que traz dados de vítimas que faleceram no trânsito e estavam sob efeito de álcool e drogas. E a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) também fez parte desse estudo, inédito no Brasil, que analisou laudos do Laboratório de Toxicologia Forense (LabTox), emitidos entre os anos de 2013 e 2023, a partir de vítimas que deram entrada no Instituto Médico Legal (IML) de Vitória (Região Metropolitana).

A pesquisa, proveniente do Edital Fapes/Seg-Sesd nº 06/2023 – Diagnóstico Situacional Sobre Uso de Drogas no Espírito Santo, em parceria com a Secretaria do Governo (SEG), por meio da Subsecretaria de Políticas sobre Drogas (Sesd), recebeu cerca de R$ 165 mil reais para o seu desenvolvimento, oriundos do Fundo Estadual de Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Funcitec).

Além da PCIES, o estudo contou com a participação de dois professores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes) – Campus Serra, Daniel Cruz Cavalieri e Hilário Tomaz Alves de Oliveira, que desenvolveram um robô com inteligência artificial para fazer a extração das informações dos laudos-cadavéricos, e da professora Maria Cristina Dadalto, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que participou da análise de dados socioeconômicos. Também estiveram no projeto quatro alunos de iniciação científica do Ifes.

"A Fapes lançou o edital para um diagnóstico sobre o uso de substâncias psicoativas no Espírito Santo. A Polícia Científica possui esses dados, entretanto não estavam sistematizados. Daí surgiu a ideia de parceria com o Ifes e Ufes para fazer a extração e análises dos dados. O financiamento (da Fapes) foi essencial para a aquisição dos computadores adequados para rodar os dados e para pagamento das bolsas dos alunos de iniciação científica", explicou a coordenadora do projeto Mariana Dadalto Peres, perito oficial criminal e chefe do LabTox.

Para o diretor-geral da Fapes, Rodrigo Varejão, o edital específico para o tema sobre o uso de drogas no Espírito Santo cumpre o papel de permitir ao Governo do Estado traçar ações estratégicas a partir dos resultados dos estudos.

"É uma chamada que acaba por estimular a formação de grupos de pesquisa interessados em temáticas relacionadas à política sobre drogas, ampliando o conhecimento sobre o assunto. Isso acaba por fornecer dados para a elaboração políticas públicas mais eficazes, em benefício da população capixaba", afirmou Varejão.

Dados detalhados

No período do estudo, os sinistros de trânsito foram a terceira maior causa de mortes, totalizando 3.559 vítimas. Dessas, 2.622 casos foram encaminhados para o Laboratório de Toxicologia Forense (LabTox), onde foram submetidos a testes para identificar substâncias entorpecentes nos corpos.

A análise demonstrou que 42,2% dos resultados foram positivos para o uso de substâncias psicoativas, o que representa 1.106 vítimas. A substância mais detectada foi o álcool, presente em 32,3% dos casos positivos, seguida por cocaína (11,1%), canabinoides (8,4%) e anfetaminas (0,6%).

O perfil demográfico das vítimas apresenta predominância de pessoas pardas do sexo masculino, sendo a faixa etária mais prevalente a de 18 a 24 anos. Na faixa etária de 25 a 44 anos, mais da metade dos casos analisados apresentaram positividade para substâncias psicoativas. A faixa etária de 30 a 34 anos teve a maior proporção de casos positivos para cocaína, enquanto entre os mais jovens (18 a 24 anos) houve maior porcentagem de positividade para canabinoides.

Para Mariana Dadalto Peres, o cruzamento de dados desenvolvidos pelo projeto pode auxiliar na construção de políticas públicas de segurança viária.

"Certamente, ao conhecer o perfil demográfico e as substâncias utilizadas por vítimas fatais no Estado, as políticas públicas relacionadas ao tema podem ser melhor direcionadas", pontuou a coordenadora do estudo.

Serviço:

Painel Pericial de Sinistros de Trânsito: clique aqui e acesse!

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