07/12/2023 16h36

Fapes encerra encontros do PIC Jr. com mostra de projetos no sul do Estado

As mostras dos resultados de 2023 foram realizadas em novembro e dezembro nas cidades de Vila Velha, São Mateus e Alegre.

 

A Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) encerrou, nesta terça-feira (5), a série de eventos para a apresentação de resultados dos projetos contemplados no Edital 22/2022 - Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC Jr). A apresentação de dez projetos da região sul capixaba aconteceu no auditório do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes) de Alegre. Professores das instituições de ensino Federal – Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e Ifes – coordenaram, com ajuda de tutores, os projetos realizados em parceria com escolas públicas, localizadas em áreas de vulnerabilidade social e integrantes do Programa Estado Presente em Defesa da Vida.

As mostras dos resultados de 2023 foram realizadas em novembro e dezembro nas cidades de Vila Velha, São Mateus e Alegre. Ao todo, 191 propostas foram inscritas no edital e, desse total, 91 foram selecionadas no resultado final do processo seletivo. Clique aqui e acesse a lista com os projetos contemplados. O Governo do Estado investiu no PIC Jr. 2023 um total de R$ 3,3 milhões no financiamento de projetos de pesquisa nas mais diversas áreas do conhecimento.

Os grupos de estudos e pesquisas formados por alunos dos Ensinos Fundamental e Médio desenvolveram projetos abordando variados temas das áreas de ciência, tecnologia e inovação. O desempenho dos jovens cientistas nas execuções dos projetos empolgou a avaliadora dos resultados, a doutora em ciências e tecnologia de alimentos, Cintia Tomás, principalmente os projetos sobre nutrição. “Me senti realizada ao encontrar tantos jovens interessados em conhecer os processos da ciência que envolvem nossa vida de alguma forma. Mais entusiasmada fiquei com o interesse deles na área de nutrição como biscoito, frutas e legumes, que conheço muito bem. O incentivo dado aos jovens, por meio do programa da Fapes, nos deixa feliz por abrir um leque de oportunidades para jovens e promissores talentos”, disse Cintia Tomás.

Identidade

Realizar um estudo e promoção da cidadania no ambiente escolar com a emissão da Carteira de Identidade para os alunos foi a propósito do projeto coordenado pela professora da Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim, Maria Delcini Bravo Pinheiro, com os alunos da Escola Estadual Maria Angélica Marangoni Santana.   Os resultados foram considerados positivos e o maior deles foi a reflexão acerca da cidadania.

 “A mudança de comportamento que nós fomos percebendo nos alunos ao longo do projeto e até a emissão do documento de identidade foi extraordinária. Quando iniciamos a pesquisa, vários alunos não puderam ingressar por não terem a carteira de identidade. Uma parceria com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social nos permitiu agendar 57 alunos da escola para tirarem o documento. Isso refletiu numa sensibilização quando eles começaram a perceber o que é ter o documento, que é ser cidadão e sobre os direitos e deveres e o compromisso de cidadão consigo e com o outro”, refletiu a coordenadora Maria Delcini.

O aluno Riquelme Teodoro Gomes, 14 anos, cursa a 8ª série na Escola na Maria Angélica, mostrou toda a alegria em ter a sua Carteira de Identidade: “Representou o momento bom na minha vida, porque me ajudou a correr atrás dos meus sonhos, promoveu um projeto ótimo também e mudou tudo na minha vida. Me sinto orgulhoso, mostro para amigos e família, agora só falta a carteira de trabalho, que eu vou fazer também.”

 

Alface saudável

Identificar a segurança e a qualidade microbiológica de alimentos vegetais in natura comercializados no município de Alegre foi o estudo realizado pelo grupo coordenado pela professora da Ufes, Mariana Drumond. A pesquisa foi realizada no laboratório da universidade com grupo aplicado a microbiologia, e contou com os alunos da Escola Sirena Rezende Fonseca, do distrito de Celina, também em Alegre.  O trabalho consistiu na avaliação da qualidade das alfaces comparando alfaces comercializadas em mercados de hortifrutigranjeiros e feiras-livres. E o resultado foi que a presença de coliformes totais e fecais nas amostras não tiveram diferença conforme explica Mariana Drumond.

“A contagem de coliformes fecais estava dentro do que é estabelecido pela legislação vigente. A população do Alegre consome uma alface de boa qualidade. De certa forma foi uma surpresa para todo mundo, porque a gente imaginava encontrar bastante coliforme, principalmente nas amostras de feira, devido à questão da adubação e irrigação, duas ações da agricultura”, explicou. A Professora ainda reforçou a questão da higienização pelo fato do alimento ser consumido de uma forma crua: “É importante utilizar soluções antissépticas.”

 

Biscoitos e bolos

 

Aluna da segunda série do Ensino Médio da Escola Aristeu Aguiar, em Alegre, Isabela Grypp demonstrou total conhecimento e entusiasmo ao falar sobre o projeto desenvolvido com os colegas sobre economia circular e um caminho para minimizar impactos ambientais, desperdícios de alimentos e insegurança alimentar. “O nosso projeto fala sobre reutilizar o que seria descartado de produções. Usamos a casca do maracujá para fazer uma farinha e partir daí a produzimos biscoitos e bolos. Quem sabe possamos levar a solução para grandes indústrias que poderão usar a dinâmica para minimizar os impactos ambientais causados por esse grande descarte de alimentos. Particularmente foi uma ótima experiência que me despertou a pretensão de entrar na Ufes”, descreveu Isabela Grypp.

Bactéria do bem

O professor da Ufes de Alegre, André da Silva Xavier, desenvolveu com estudantes da Escola Estadual Aristeu Aguiar um projeto de estudo sobre soluções microscópicas para agricultura frente às mudanças climáticas. O objetivo principal foi inserir os jovens na prospecção de bactérias benéficas para a agricultura, focadas nas questões de seca. O foco foi encontrar bactérias no solo e em plantas que têm aptidão para crescer em ambientes com baixa atividade de água ou seca, e daí, encontrar populações de microrganismos que pudessem ser usados futuramente na agricultura.

Segundo o professor, ao serem utilizadas para tratar algumas plantas como milho, rabanete e feijão, encontraram algumas bactérias que tinham aptidão para serem futuros produtos biotecnológicos para a agricultura. “Dentro desse grupo de bactérias, uma se destacou, que é a UF-150. Essa bactéria conseguiu mitigar o estresse hídrico nas plantas estudadas e ainda promover o crescimento das plantas nessas condições. Então, além desse aspecto científico da pesquisa, os jovens também participaram de ações de extensão. Nós desenvolvemos uma cartilha, um material didático para agricultores, mostrando a importância da microbiologia e dos microrganismos do solo para a agricultura, porque pouco se fala que existem bactérias e fungos e vírus que são bons”, explicou André Xavier.

A descoberta da nova bactéria resultou na cartilha “Micróbios do Bem”, desenvolvida pelos alunos do projeto, que vai ser divulgada em material da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e faz parte também de uma tese de doutorado de uma estudante da Ufes.

 

Chuchu e a pressão alta


Avaliar a capacidade antioxidante do extrato de chuchu e seus benefícios no combate à alta pressão arterial e diabetes foi o objeto de estudo pesquisador da Ufes Eduardo Frizzeira Meira com os estudantes da Escola Sirena Rezende da Fonseca.  O uso popular do chuchu para tratar principalmente a hipertensão levou à investigação da ação antioxidante. Os resultados apontaram que o legume tem uma atividade antioxidante razoável, mas quando comparado com outros extratos vegetais, o benefício existente é bem menor.

Eduardo Frizzera falou sobre os dados comparativos: “Comparamos com o padrão ouro que a gente chama ‘ácido gálico’ que é um constituinte químico de captação de antioxidante e o chuchu teve 1.0 em 1.6, realmente ele precisou de muito extrato para ter a mesma ação do padrão”.

 

Plantas medicinais

 

O professor Yago Ricardo Oliveira, da escola Sirena Rezende Fonseca, foi tutor do projeto sobre a Horta Medicinal na Escola, realizado em parceria com a Ufes, como forma de levar a valorização da educação ambiental aos alunos.  Como resultado houve um resgate cultural do distrito de Celina, sob o tipo de planta medicinal utilizado historicamente no local, conforme explica Yago Ricardo: “Fizemos um resgate histórico e descobrimos uma série de benefícios dessas plantas. Buscamos disseminar esse conhecimento com a população para que isso seja valorizado e perpetuado por mais tempo. Somado a isso, vale destacar o grande interesse e o crescimento dos alunos ao longo de todo o projeto. Conseguindo ter mais engajamento, perspectiva de futuro, uma série de conhecimentos necessários também para a educação básica deles.”



Realidade aumentada

 

Alunos da Escola Maria Angélica, de Cachoeiro de Itapemirim, sob o comando do professor do Ifes Leandro Marochio, tiveram a oportunidade de vivenciar a experiência da realidade aumentada como ferramenta de difusão de ensino, conscientização e planejamento. As ações realizadas no projeto mostraram a grande capacidade que o PIC Jr. tem ao espalhar esperança para os estudantes, diante dos pontos descritos na apresentação dos resultados. “Tivemos resultados interdisciplinares, socioambientais, uma educação científica orientada a resultados e bom de relacionamento interpessoal, uma vez que essas crianças moram em um bairro de vulnerabilidade social, com pouco acesso à ciência de ponta, à Matemática avançada, ou seja, à metodologia”, analisou o coordenador Leandro Marochio.

 

Estreante no PIC Jr.


A professora de Farmácia da Ufes de Alegre, Cléssia Pirola Madeira trabalhou na capacitação do manejo de células cultivadas com os estudantes do Ensino Médio da Escola Sirena Rezende Fonseca. Pela primeira vez participando do PICJr, a coordenadora do projeto relatou a sua visão sobre o programa: “Enxergo de perto a importância que eu já acreditava que ele tinha. Acredito que o estudo é transformador e aproxima esses estudantes que, muitas vezes, são desacreditados das próprias capacidades. É grande a oportunidade de mostrar a eles que a universidade é um ambiente completamente possível e acessível para a realidade deles.”

Durante a realização dos trabalhos os alunos se interessaram muito pela parte do laboratório, pela visualização das células, por entender como funcionam os processos. “A gente entrou num aspecto bem técnico do laboratório com testes nas células tumorais que requerem um ambiente totalmente preparado e especial para que elas sobrevivam. Tudo muito produtivo e eles aprenderam uma parte bem aprofundada”, pontuou a professora.

 

Reciclando e conscientizando

Foi buscando realizar a conscientização ambiental a partir de materiais recicláveis transformados em outros produtos sustentáveis, que a professora de Licenciatura em Química da Ufes, Luciene Paula Roberto Profeti, reuniu um grupo de alunos da Escola Antônio Ribeiro Carneiro, de Guaçuí. Os alunos da primeira série do Ensino Médio passaram por uma alfabetização científica tendo suporte para trabalhar e entender o que é um experimento de química tanto na escola quanto no laboratório. Em um dos experimentos conheceram o que são materiais recicláveis e materiais poliméricos, que são basicamente a matéria-prima para sacolinhas plásticas e garrafas PET. O material foi exposto ao meio ambiente durante todo o período do projeto e sendo testado a sua resistência. Ficou constatado que não há uma degradação fácil.

No laboratório da Ufes, os alunos fizeram diversos experimentos de Química, até sintetizaram um plástico biodegradável. Os experimentos vão continuar em etapas seguintes, conforme esclareceu Luciene Profeti: “a gente não conseguiu finalizar e ver a degradação desse plástico no meio ambiente, porque ainda falta um tempinho, por conta de todo este estudo. Mas os alunos produziram e eles vão dar continuidade ao estudo para ver os resultados mais adiante. Eles estão muito felizes, gostaram muito da experiência. Obtivemos bastantes materiais que eles produziram. Fizemos uma abordagem bem completa de todas as percepções deles que puderam colocar o papel, os resultados estão aí.”

Aluno Especial

Ao selecionar os alunos da Escola Antônio Carneiro Ribeiro, de Guaçuí, para um projeto do PIC Jr. foi definido que o grupo seria composto por alunos de baixa renda, negros e moradores de áreas vulneráveis socialmente. Entre os inscritos, um aluno de 15 anos, da primeira série do Ensino Médio, chamou atenção por fazer parte da turma de educação especial.  Ele participou de todas as etapas do processo e foi selecionado por atender todos os pré-requisitos. O ato de inclusão impactou positivamente toda a instituição conforme relata a professora de Educação Especial, Maira de Oliveira Silva, que acompanha o aluno nas atividades do projeto. “Foi de grande importância, porque ele é movido pelo estudo e deu uma visibilidade muito grande para a Educação Especial na escola, de mostrar que os meninos da Educação Especial estão ali, podem aprende, estão inclusos”.

O que de fato mudou a vida do aluno especial foram os demais professores que deram toda a acessibilidade que ele precisava no processo de aprendizagem e os amigos do projeto que o ajudaram muito no desenvolvimento das atividades.

O relato dele sobre a participação no projeto foi emocionante, porque abriu o coração para mostrar o quanto esse projeto fez bem para a sua vida. “Ele agora tem a oportunidade de sonhar, pois tem essa capacidade de ir para uma universidade, os planos dele agora são outros. Até despertou a vontade de fazer química por conta desse projeto e a gente espera que não só ele, mas outros alunos da educação especial também tenham essa oportunidade”, ressaltou Maira de Oliveira.


Arte e tecnologia na Biologia


O Professor do Ifes de Cachoeiro de Itapemirim, Marcelo Chagas, realizou um projeto junto com os alunos da Escola Estadual Maria Angélica com o objetivo de unir arte com tecnologia no ensino de Biologia, na construção de modelos didáticos como proposta de ensino integrador. O projeto foi realizado em parceria com a Ufes de Alegre e foi consistido por uma série de atividades para que os alunos ganhassem uma visão espacial e procedimentos de criação de materiais didáticos. “Eles cresceram muito nesse sentido de criação e de valorização pessoal na criação da arte, isso tudo aprendendo ciência. Outro grande benefício foi o contato dos alunos com a realidade da Universidade e do Instituto Federal que os levaram ao desejo de crescerem e seguirem na carreira na área da ciência”, destacou Marcelo Chagas.

 

 

 


Texto: Jair Oliveira

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