Ao implementar editais focados na igualdade de gênero, a Fapes reafirma o compromisso com os princípios do Plano Estadual de Políticas para as Mulheres do Espírito Santo.
Celebrado nesta segunda-feira (26), o Dia Internacional da Igualdade Feminina é uma data importante para milhares de mulheres e, no ambiente da ciência, não é diferente. Pesquisadoras capixabas relembram os desafios, oportunidades e as vitórias conquistadas ao longo de suas carreiras e falam sobre a importância da igualdade de gênero. Neste mês de agosto, a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) formalizou a contratação de 51 projetos selecionados no edital Fapes nº 21/2023 – Mulher na Ciência II e os trabalhos de pesquisa já começaram. O investimento é da ordem de R$ 5,2 milhões.
O diretor-geral da Fapes, Rodrigo Varejão, informa que esta é a segunda edição do edital Mulheres na Ciência. “A primeira foi em 2022, com 45 propostas contratadas e um investimento de mais de R$ 2 milhões. De lá para cá, observamos uma participação cada vez mais significativa das pesquisadoras capixabas nas ações fomentadas pela Fapes. Com o edital exclusivo para mulheres na ciência, a Fapes se mantém empenhada em ampliar as oportunidades para as mulheres pesquisadoras e em despertar novas lideranças de pesquisa, seguindo os princípios do Plano Estadual de Políticas para as Mulheres do Espírito Santo”, pontuou Varejão.
"Nesta 2ª edição, 157 propostas de projetos científicos, tecnológicos e de inovação de diversas áreas foram inscritos, demonstrando uma participação crescente de mulheres cientistas. O edital visa a incentivar mulheres a liderarem projetos de pesquisa e beneficia aquelas pesquisadoras que tiveram que se afastar de suas atividades durante a gravidez. Trata-se de uma iniciativa inovadora com resultados positivos para o Estado", destacou o diretor-geral da Fapes.
Quem são as mulheres cientistas contempladas no Mulheres na Ciência II?
A Fapes convidou mulheres pesquisadoras que estão à frente dos projetos selecionados no edital Mulheres na Ciência II para contar um pouco de suas trajetórias no ambiente da pesquisa. Conheça a história de algumas delas: Há 25 anos se dedicando à pesquisa, com experiência em visão computacional, robótica e espaços inteligentes, a professora do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Raquel Frizera Vassalo, é coordenadora do projeto “Cooperação Humano-Robô-Ambiente em um Espaço Inteligente”, que pretende desenvolver um novo estudo de caso com foco na cooperação e interação que envolva o ser humano, um robô móvel com manipulador e o espaço inteligente numa tarefa de manipulação, seleção e ordenação de objetos.
Raquel Vassalo conta que um dos maiores desafios de sua carreira foi mostrar que a mulher também tem competência para fazer trabalhos nas áreas de tecnologia. “De uma maneira geral, sempre fui muito respeitada, mas, de uma forma velada, a gente nota que nós temos muitas vezes que fazer o dobro ou o triplo do esforço para ter o nosso trabalho reconhecido ou valorizado ou a sua opinião como pesquisadora valorizada. Eu acho que esses são os principais desafios, enquanto mulher, e agora como pesquisadora numa universidade pública são as dificuldades que todos os pesquisadores e professores enfrentam nesse País, que é, muitas vezes, a falta da valorização do nosso trabalho como professora e pesquisadora”, disse.
A professora comentou a importância de editais, como o Mulheres na Ciência. “O edital é bastante interessante e serve de estímulo para que mais mulheres pensem em submeter seus projetos e tentar a aprovação para receber o apoio financeiro. É uma forma de aumentar a produtividade científica das mulheres para mais a frente disputar em pé de igualdade outros editais com outros pesquisadores”, ressaltou Raquel Vassalo.
Professora de Engenharia Agrícola, Pesquisadora e Extensionista do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes) campus Santa Teresa, Paola Lo Monaco falou sobre o projeto que coordena e que foi aprovado no Edital Fapes 21/2023 – Mulheres na Ciência, e também relembrou desafios em sua trajetória. “O projeto tem como finalidade realizar um estudo das condições socioeconômicas das Catadoras e Catadores de Materiais Recicláveis e Reutilizáveis nas principais cooperativas e/ou associações do Espírito Santo”, frisou.
Paola Lo Monaco comentou os desafios enfrentados como pesquisadora diante do período da maternidade. “Antes de engravidar, eu estava totalmente imersa em projetos de pesquisa e publicando vários artigos. Mas, após o nascimento do meu filho, ficou bem difícil conciliar o papel de mãe, professora e pesquisadora, mesmo após a licença de seis meses. Inevitavelmente, o número de publicações caiu, porque a maternidade naturalmente passou a ser prioridade, seguida da docência, durante os quatro primeiros anos. Somente a partir daí que voltei a retomar gradativamente minha produtividade como pesquisadora, ainda que com uma certa limitação, pois essa jornada tripla de trabalho é extremamente exaustiva”, salientou a pesquisadora do Ifes de Santa Teresa.
Professora titular da Ufes desde 2015, no Departamento de Engenharia Elétrica, Jussara Farias Fardin acumula experiência, diversos estudos e participou como consultora na área de Engenharia Elétrica para a nova estação brasileira na Antártica. Em sua trajetória, publicou 115 artigos em anais de congresso, 44 artigos publicados em periódicos e quatro capítulos de livros. A pesquisadora fala do começo da carreira e das vitórias conquistadas.
“Comecei minha carreira numa época que as mulheres na Engenharia eram muito poucas, não ocupávamos o espaço de outros, não éramos ameaças. Cruel, não!? Então, a ordem do dia era arregaçar as mangas e trabalhar. O Departamento era pequeno e com falta de professor. Todos nós tínhamos que trabalhar muito. Comecei a dar aulas na Ufes logo após me graduar e algumas vezes sofri intimidação, mas consegui ultrapassar a barreira à medida que fui ficando mais madura”, conta Jussara Fardin.
A pesquisadora afirma que, atualmente, ter o reconhecimento das alunas e alunos dela é uma das maiores vitórias: “Ser respeitada pelo meu trabalho e saber, quando olho para trás, que fiz a melhor opção e que sempre trabalhei sério para que fosse assim e continuo trabalhando. A pesquisa agrega valor a minha trajetória como professora e me permite formar recursos humanos mais capazes de atender às necessidades da nossa sociedade”.
Mariana Rampinelli é professora do Ifes de Vitória na área de Engenharia Elétrica e também teve projeto contemplado no Edital 21/2023 – Mulheres na Ciência II. Ela conta que sempre teve o desejo de ser pesquisadora.
“Antes de entrar na graduação, antes de escolher o curso, eu já tinha o desejo de ser cientista. Fiz a graduação e fui emendando mestrado e doutorado. Logo depois, ingressei no Ifes e submeti meu primeiro projeto de pesquisa em um edital da Fapes. Como na minha área, não temos muitas mulheres e, por vezes, recebo feedback de algumas alunas dizendo que se inspiram em mim como professora da área. Isso é recompensador, poder incentivar que outras mulheres possam estar na área de engenharia, na ciência, buscando o seu lugar também”, disse Mariana Rampinelli.
A professora do Ifes de Vitória complementa que editais voltados para mulheres têm grande valor para a sociedade. “Acho que os editais, como o Mulheres na Ciência, ajudam sim, porque incentivam e fomentam mulheres que não tenham uma produção tão alta a participarem, e mais do que participar, a conquistarem a coordenação e, consequentemente, melhorar a sua produção. E isso é extremamente importante por um ciclo virtuoso de produção e de inserção da mulher na ciência”, destacou.
Dados da Ipea e Unesco sobre a inserção de mulheres na ciência
O edital foi pensado a partir de dados oficiais revelados em 2020 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que mostra que as mulheres eram cerca de 54% dos estudantes de doutorado no Brasil, um aumento impressionante de 10% nas últimas duas décadas. Comparados aos dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em que apenas 28% dos pesquisadores do mundo são mulheres, se constatou um número pequeno de pesquisadoras na Ciência, Tecnologia e Inovação.
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