09/10/2025 16h05 - Atualizado em 09/10/2025 16h59

De Vargem Alta para o mundo: produtor rural supera problema de saúde, idealiza projeto apoiado pela Fapes e é premiado internacionalmente

Anatalício dos Reis Silva cria peneirador de café portátil que foi aperfeiçoado por incubadora do Ifes, por meio do fomento de editais do Governo do Estado, e leva prêmios na InnovaCities.

Uma reviravolta de vida que resultou em prêmio internacional. Assim poderia ser contada a trajetória do produtor rural Anatalício dos Reis Silva, de 49 anos, se ela tivesse que ser resumida em apenas uma frase. Após um grave problema de saúde, que quase o impediu de seguir trabalhando, ele teve uma ideia que revolucionou o seu serviço: criou um peneirador de café portátil, uma máquina que limpa o produto colhido na lavoura.

Com a ajuda de pesquisadores da incubadora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes) de Cachoeiro de Itapemirim, que teve o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), por meio dos editais Universal, Centelha, NIS, Clusters e Parceria entre Startups, o protótipo passou por evoluções ao longo dos últimos anos e ganhou seu reconhecimento máximo ao conquistar três prêmios na 14ª edição da InnovaCities – Feira Internacional de Cidades Inteligentes, Alegres, Humanas e Resilientes, realizada em setembro, na cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná.

O evento teve rodadas de avaliação com uma hora de apresentações e disputa de projetos. Cada participante tinha três minutos para realizar seu "pitch" e falar sobre o desenvolvimento da sua ideia na tentativa de impressionar os jurados. Após a análise dos especialistas, a máquina que limpa mais de 400 quilos de café por hora, idealizada por Anatalício, ficou com o 1º na categoria Diversidade e Tecnologia para Equidade, o 1º lugar na categoria Sustentabilidade Urbana, e o 3º lugar na categoria Governança e Políticas Públicas Inclusivas.

"Me sinto muito orgulhoso por ter concorrido com pessoas de vários países, poder estar ali trocando ideias, fazendo novas amizades e adquirindo novos conhecimentos. Quando chegou a fase da decisão, eu estava sonhando com um terceiro lugar, que já seria excelente, e acabei sendo premiado três vezes. Já estava feliz só com o fato de representar o meu Estado, o meu País, em nível internacional. Terminar em 1º lugar é uma coisa que estou assimilando dia após dia e comemorando. É uma história, um aprendizado e uma conquista que jamais vou esquecer. Estou muito realizado", emocionou-se Reis Silva.

Ideia surge de um problema grave de saúde

Mas nem tudo foram flores na caminhada de Anatalício até a premiação. Após anos trabalhando na lavoura de café, em Vargem Alta, ele acabou contraindo uma pneumonia, em 2019. E o contato com a enorme quantidade de poeira durante o processo de peneiramento manual do café contribuiu para o agravamento do seu quadro de saúde.

"Eu adoeci mesmo. Fiz quatro cirurgias, perdi quase 40 quilos. O médico falou que o meu caso tinha sido construído por meio da poeira no meu trabalho e sugeriu que, por causa do contato com essa poeira, eu não poderia mais peneirar café", contou.

Ainda no hospital, durante um papo com o médico sobre o seu estado clínico, ele revelou ao doutor sua ideia de inovação. "Falei com ele que estava com a ideia de um projeto que poderia me permitir seguir trabalhando. Daí que surgiu o abanador, que criei em cima dessa situação de substituir o serviço braçal que eu fazia, mexendo com poeira o dia inteiro. Com ele, conseguiria me manter mais distante da poeira. Era colocar o café no abanador, que ele limparia para já deixar no saco", explicou Silva.

Conexão com o Ifes impulsiona o projeto

A conexão com o Ifes veio por meio de uma exposição. Ao ficar sabendo da realização da Expo Sul Rural, Anatalício se interessou em expor o protótipo no evento. Com a ajuda de Wesley Mendes, presidente do Sindicato Rural de Cachoeiro de Itapemirim na época, ele conseguiu um carro e levou sua máquina para apresentar aos cafeicultores de todo País. Foi lá, após o projeto até viralizar nas redes sociais, que conheceu um representante do Ifes e deu o pontapé inicial na parceria com a instituição.

"Apresentei durante o dia e apareceu um representante de inovação. Quando ele bateu o olho no projeto, falou: ‘Rapaz, esse projeto tem futuro. É uma coisa diferente’. Fez um vídeo comigo e postou nas redes sociais. Nessa postagem dele, o peneirador foi visto em vários países, chamou muita atenção. Em duas horas, estava com 100 mil curtidas e vários comentários. Logo na sequência, conheci um professor do Ifes, chamado Saulo da Silva Berilli. Ele olhou o projeto e falou a mesma coisa: ‘Seu projeto é excelente’. Então, depois do evento, ele propôs levar o projeto direto para o Ifes para dar início ao desenvolvimento", revelou.

Evolução conta com apoio da Fapes

Em contato direto com um grupo do Ifes, o projeto passou por um aperfeiçoamento por meio de pesquisas. Igor Tosi, que coordenou o projeto em três editais aprovados na Fapes, relembra que ele ainda era um aluno quando tudo começou — há quase cinco anos.

"A gente conheceu o Anatalício por meio da incubadora do Ifes. Na época, eu ainda estava na graduação. Iniciamos tudo isso com um projeto de iniciação científica com bolsa, no Edital Universal, lá no ano de 2021. O projeto começa ali. Em 2022, a gente parte para trabalhar em todas as melhorias: estudos de viabilidade, estudos de análise dinâmica, análise de estrutura, verificações de materiais, para encontrar o melhor índice de peneiramento da máquina", explicou Tosi.

"A gente submete para o edital Centelha e fomos aprovados. Em seguida, para aproveitar novas oportunidades, nós submetemos para o edital do NIS e também fomos selecionados. Depois fomos para o edital de clusters, primeiro ciclo e segundo ciclo. E, por fim, estamos no edital Parcerias Entre Startups, com projetos de melhoramentos. Esse equipamento mais novo já pode alcançar um índice de 700 quilos por hora, um movimento bem melhor do que a gente tinha no início", detalhou.

De acordo com Tosi, a máquina é totalmente funcional e de baixo custo.

"Consegue ser móvel, trabalha com diferentes inclinações, diferentes em declividades do terreno. Uma máquina fácil de ser trabalhada. O Anatalício trouxe aquele primeiro protótipo dele, com as caixas de compra, e a gente viu que tinha bastante coisa para melhorar. Entregamos aquele protótipo, que ele alcançou os 420 quilos, e hoje a gente já tem um protótipo, uma máquina que já está pronta para ser comercializada. A gente pretende negociar já no próximo ano", completou Tosi.

Ao todo, o projeto recebeu um investimento de mais de R$ 450 mil reais dos cinco editais em que foram contemplados pela Fapes.

Comercialização da máquina ainda é incógnita

Apesar do desejo de comercializar a máquina em um futuro próximo, o grupo ainda não sabe exatamente quando isso será possível. Tudo por conta do processo de patente, que ainda não foi totalmente concluído. “Estamos tentando resolver’, resume.

Após ser premiado na InnovaCities - Feira Internacional de Cidades Inteligentes, Alegres, Humanas e Resilientes, Anatalício dos Reis Silva, idealizador da máquina, confirmou que recebeu sondagens de investidores do exterior interessados no produto.


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